quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Beautiful Night

Mais uma vez eu tive uma daquelas crises existenciais. Precisei sair durante uma madrugada fria para testar minha coragem e capacidade. Inútil. Tudo que consegui foi ser perseguida por sabe se lá quem e acordar em um lugar completamente diferente do que eu esperava. E, pior ainda, ter que mentir para quem eu jurava ser meu amor. Mais um engano.
Não, para. Vamos recomeçar a história e darmos um sentido a ela. O inicio foi exatamente no momento em que eu comecei a questionar minha personalidade. Do que realmente eu era capaz? Ou incapaz? Seria possível testar a minha capacidade? Uma das minhas maiores –e inúteis- vontades sempre foi andar sem rumo e despreocupada por uma rua deserta. O som do silencio me dominaria e eu voltaria para casa em um êxtase de relaxamento. Incrível. Porque não? Foi o que eu fiz.
Desci as escadas cuidadosamente e tomei o cuidado de não abrir portões, pulei o muro. O vento estava gelado lá fora e eu senti medo, admito. Como um estímulo para provar minha capacidade, segui em frente. Dobrei a esquina à esquerda e segui em linha reta por longos cinco minutos. Chegando a uma avenida larga, atravessei as ruas sem problema, não havia ninguém. Do outro lado havia uma farmácia e apenas ela mostrava que ainda havia vida neste mundo. Não me importei, continuei em frente, como sempre me aconselharam enquanto estava em crises loucas e suicidas: “Você precisa seguir em frente”.  Mais uma vez dobrei a esquina à esquerda e passei a sentir uma presença por perto. Convencendo a mim mesma que minha loucura estava agindo como um câncer e por metástase se espalhando por diversas áreas do meu cérebro, me causando sintomas esquizofrênicos, ignorei. Segui em frente e dobrei à direita, pra diversificar um pouco meus passos negativos.  Tudo continuou absolutamente da mesma maneira assustadora, desta vez havia sombras.
Decidi correr. Dei meia volta e segui em frente com a intenção de dar a volta no quarteirão e retornar à farmácia que eu havia visto antes. Aliviada e sufocada, entrei na farmácia em desespero. Havia um rapaz no caixa, sozinho. Seus cabelos estavam desalinhados e seu rosto estava amassado. Ele era alto, incrivelmente alto e naturalmente musculoso. Havia uma tênue barba por fazer em seu queixo. Ele levantou imediatamente e trouxe-me um copo d’agua. Após alguns minutos de soluço desesperado, finalmente acalmei os nervos e não contei apenas sobre a perseguição, mas desabei sobre o coitado todos os meus devaneios suicidas e problemas familiares e amorosos.  Senti-me tão segura e compreendida.
A partir daqui lembro-me de maneira vaga do que aconteceu. Entramos em um carro, ele sempre olhando para mim de maneira cuidadosa. Passado um curto tempo chegamos a um prédio com escadas estreitas e portas padronizadas. Entramos por uma destas portas e ele deu-me uma camisa sua. Deixou-me na sala para que me trocasse e disse que eu não estava em condições de voltar para casa sem que ninguém percebesse. Concordei.

Recordo-me vagamente de ouvi-lo dizer algo diferente do que as pessoas que, se sentindo tão superiores em estar lidando com alguém abalado emocionalmente, dizem. Ele falou que sabia exatamente o que se passava em minha mente e que os loucos só eram considerados loucos por serem inteligentes a ponto de enxergarem a verdade onde ninguém mais consegue enxergar. Ofereceu-me um baseado, recusei. Apesar de ele ter dito que isso me tornaria relaxada e feliz. Enxergo isso como enganar a mim mesma.  Passamos mais alguns minutos conversando e caí em um sono profundo e cheio de sonhos.  Acordei desesperada.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Eternal Sunshine

Eternal Sunshine of the Spotless Mind

E assim, do nada, você decidiu apagar nossas lembranças. Não do modo convencional ou metafórico, no sentido literal da palavra mesmo. Eu estou em um dos piores momentos da minha vida e você nem sabe que hoje estaríamos completando cinco turbulentos e intensos anos juntos. Maldita ciência. Maldita tecnologia.  Quando eu soube que você estava tão infinitamente depressivo, já era tarde demais. Interromper o procedimento só te causaria mais traumas, afinal, você teria surtos de memórias que deixaram de existir. Você enlouqueceria.
Sentei naquela velha poltrona amarela e te observei, por intermináveis horas. Tive que controlar meus instintos para não retirar aquele capacete estúpido da sua cabeça, mas ao contrário do que você pensa, eu não sou egoísta a ponto de manter lembranças em você que você imagina serem inexistentes. Deve ser perturbador. Eu mesma nunca sei distinguir o ilusório do real e isso realmente me enlouquece um pouco.
Quando restavam apenas dez minutos, me retirei. Nunca foi tão doloroso andar as ruas de Brighton sem você, e pior, sabendo que você jamais se lembraria das nossas tardes tomando chá, enrolados em um cobertor.  Você vai ter que redescobrir a profundidade dos sentimentos em filmes preto e branco, e até esse momento chegar, você vai ser aquele mesmo cara metódico e sem sonhos de antes, é uma pena.
E aquela minha mania excêntrica de correr em um lago congelado? Você nunca vai saber novamente como foi sentir seus pés sem controle. Não da mesma maneira libertadora e perigosa.
Deus, como isso é desesperador. Posso me atirar naquela ponte que costumávamos passar todos os dias para ir para nossa casa? Ela é linda e deve ser maravilhosa a sensação do frio cortando a minha pele. Frio na barriga. Arrependimento. Tristeza. Dor. Nada. Está tudo escuro e eu tenho vontade de chorar, mas não consigo. Quero levantar meus braços, mas eu já não sinto mais eles.
Me tira dessa crise! Eu quero acordar!
O quarto estava escuro e frio. Meu coração estava em frangalhos. Era verdade, em partes. Nós havíamos terminado. Senti um alívio por perceber que tudo não havia passado de um sonho. Ele ainda se lembrava de mim. Mas não seria uma má ideia ter a minha memória apagada... 

* Inspirado no filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Amelie

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Amelie era uma garota sombriamente amarga. Seus sonhos eram apunhalados assim que começavam a surgir. Sua voz era duramente sufocada por seus gritos abafados. Sua vida era sempre uma calmaria angustiante. Um amor sonoro, sórdido a ponto de parecer perfeito. Havia também uma personalidade reprimida em páginas amareladas. Eram apenas seus livros, companheiros insolentemente maravilhosos.
Sua vida era hipotética. Duvidosa a ponto de parecer sensata. Não havia nada determinado, mera e doce ilusão. Havia dois garotos.  Eles causavam angustia e um clichê sôfrego. Por um lado, havia o comodismo despreocupado. Por outro, o medo avassalador e a emoção acompanhada. Amelie não fazia nada, o meio termo a tornava fraca. Inutilidade.

E mais uma vez ela apunhalou seus sonhos, sufocou sua voz com seus próprios gritos e duplicou a dose de amargura em seu coração. O amor se tornou duplamente sonoro, quase um eco audível apenas aos seus ouvidos. O medo, a emoção, o clichê sofregamente rotulado permaneceu em sua vida. E Amelie continuava deixando o meio termo torna-la fraca. 

domingo, 9 de junho de 2013

Eu te fiz melhor pra mim

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Eu sei que pode soar egoísta, mas eu te fiz melhor pra mim e foi melhor assim, apesar de ter durado pouco. Você passou de um vício mortal para um intelectual e isso me orgulha profundamente. Passávamos tardes frias, sombrias e chuvosas, sentados em uma cadeira de balanço lendo algum livro da minha estante favorita.  Eu te amei eternamente por noventa dias, sabia?
E nossos filmes ao meio dia de todo domingo? Eram complexos, não eram? Assim como nosso amor. Tentei te mostrar através de uma intelectualidade complexa, o quão difícil era nosso relacionamento, mas você não entendeu, e continuou insistindo metodicamente na mesma coisa. Eu cansei. Porque eu sou do mundo, não consigo nem mesmo me pertencer, como irei pertencer a outra pessoa?  Você não entendia.
Mas eu te fiz melhor pra mim. Porque não foram à toa suas crises existenciais e seus questionamentos quanto à vida. Nossas teorias secretas giravam em torno de uma explicação para a criação do universo e eu te fiz melhor pra mim, porque você concordou e entendeu. Ninguém entendia.
Sobre aquele dia, eu não quis que soasse tão friamente, mas foi assim, você entendeu o que quis e eu não pude me explicar, porque se eu explico eu pioro tudo, e você sempre soube disso. É uma pena.
Você me acompanhava ás festas apenas para não deixar ninguém se juntar a mim, porque você pensava que eu te pertencia, mas você estava enganado, infelizmente.

E eu te fiz melhor pra mim, porque eu precisava moldar sua personalidade impertinente para preencher essa dúvida eterna dentro de mim. Você acompanhou meus passos psicológicos e isso foi uma droga, porque você passou a agir da mesma maneira que eu, e o feitiço virou contra o feiticeiro. E eu vi em você tudo que eu mais odiava, e descobri que eu era insuportavelmente egoísta. Desculpe-me por tentar te fazer melhor pra mim, porque as melhores coisas não precisam ser a mesma para todos e eu precisei de noventa dias e um ponto final para entender isso.

quarta-feira, 6 de março de 2013


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Entrego-me e logo me arrependo. Essa tua fúria sentimental mastiga meus sentimentos sem pesar algum. Vivo uma constante e incessante luta comigo mesma, enquanto você, de um egocentrismo quase imperceptível aos olhos leigos, maltrata e esmaga essa metáfora concreta. Coração. Te espero, eu quero. Prometo persistir até o fim das minhas forças. Estou aqui como um antônimo de teus sentimentos. Tão doentio e preocupante, estou tanto aqui que já não me cabe sair para lembrar-me de mim. 
Atropelo-me nas tuas palavras e nada adianta. Sua vida retrocede em fatos tão antiquados que nem mesmo minha mente desprovida de realidades é capaz de compreender. Não fuja, encare tuas impertinências, assim como eu as encaro, mesmo não sendo da minha obrigação. Te quero de uma forma indevida e insuportavelmente dolorosa. Meus olhos ardem com uma tristeza abstrata a ponto de ser desesperadora. Tento com todas as forças arranca-la do meu peito, mas logo descubro que ela é tão inalcançável quanto a minha força.
Estarei ali, aqui, em qualquer lugar. Espero teus esclarecimentos justificáveis. Estou sufocada pela esperança e isto é um mal no qual não posso me livrar. Acabaremos por aqui ou recomeçaremos. Quem sabe de forma tradicional. Quem sabe funcione. Ou não.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Limiar.


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Irrita-me e apaixona-me. Um paradoxo infeliz e gostosamente viciante. Vejo-te em tantos lugares que já nem sei mais onde me esconder para te perder. Sabe, é bom ter que te encontrar às vezes. Só para mudar estes planos minuciosamente traçados em teu subconsciente.  Perca-me por vezes, alguns segundos, quem sabe. Mas encontre-me antes mesmo de meus pés saírem do chão. Jamais solte estas linhas que prendem meu coração ao teu. Sou capaz de voar tão alto que nem teus pensamentos ocultos serão capazes de me alcançar. Não confunda. Corpo e alma são coisas completamente diferentes, não foram ideologicamente definidos, acredite. Estou tantas vezes por um fio, você nem percebe. Sempre me agarra no último segundo e me segura tão forte como se soubesse que quase nos perdemos. Meu coração fica pequenino, tão frágil, sem força para acreditar que nossas vidas podem se eternizar em uma só, assim como planejamos.
É tão insano este vício que corrói meu coração. Enjoo de ti de uma forma tão complexa e peculiar. Não quero que se afastes. Cole teu corpo ao meu e una nossas almas para que elas sejam apenas uma, impregnando sorrisos infindáveis por onde passarmos.  Lembre-se que eu arranquei uma parte de mim para que você completasse. Não a guardei como normalmente é feito, não acreditei um dia precisar desta outra parte para preencher um futuro vazio que você poderá deixar. Eu simplesmente a deixei por aí, solta, sem compromissos e vontades. Se partir, não há meios de preencher-me de volta.
Vivemos impasses insustentáveis que desaparecem no instante de um toque. Teus sonhos são tão meus que faço o máximo que posso para realiza-los por ti. Tua felicidade, assim como a tristeza, não pertence apenas a teu coração. Não mais. É fascinante ver-me em tuas pupilas dilatadas. É insano querer tua proteção mais do que a minha, querer o teu bem mais que o meu.  Assumo clichês por ti, assim como assumes teus sentimentos por mim, às vezes, eu sei. Somente em intervalos intermináveis de tempo.  Apenas não me deixe sem esta tua metade, tão necessária para nós, para nossos planos. Espero que a vida não conduza seus pensamentos de forma contrária. Espero-te ali, no lugar de sempre. Pra sempre.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Impetuosidade.




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Mais uma vez. Não me interroguem com suposições completamente equivocadas. Aqui fala Melanie. Nome bonito, não? Tenho certeza que sim. Posso falar sobre o meu dia? Se não for incomodar, claro. Penso que não, mas podem interromper caso se sintam sufocados. Sempre me sinto sufocada quando leio textos extremamente melancólicos. E-X-T-R-E-M-A-M-E-N-T-E, não aprecio muito o uso desta palavra, soa comum, desajustada, parece que o texto foi feito por uma pessoa normal, sem sal, açúcar e nenhum outro condimento. Sou cheia de condimentos e artifícios, naturais, acreditem.
Hoje eu levei um balde de água fria interno. Na verdade, isso aconteceu há exatos cinquenta minutos. Mas devido à constância rotineira dos fatos, meu coração se acomodou. Confiar é como andar em uma corda bamba, sem proteção e de olhos fechados. É quase como um suicídio sentimental. Seres humanos são maldosos, frios, calculistas, egoístas. Não me enquadro nesta espécie que auto julga-se sapiente. Nego até a morte pertencer a esta espécie irracionalmente designada como racional. Não sou.
O dia foi bipolar, ele segue a minha personalidade impetuosa, desculpe. No período em que o sol estava expondo a sua beleza no céu, meu corpo experimentou um sabor ardente. Esgotei minha cota diária de endorfina. Agora, quando o sol abandonou o céu, a adrenalina deixou-me alerta. Confesso que não gosto muito dessa característica peculiar. Perceber de maneira exorbitante as intenções alheias destrói meu coração mais do que permanecer eternamente ignorante quanto aos fatos.
Descobri, atinei. Surgiu em minha mente de forma misteriosa, exatamente como aconteceu durante todos esses dezessete anos. Busquei, encontrei. Confirmei. Juro que não foi surpresa. Uso as misteriosas nuvens do esclarecimento desses dezessete anos há exatos dezessete meses. Não foram poucos fatos notados. Na verdade, esqueci-me da maioria.
Sou inusitada, peculiar, insólita, inédita. Viciada em sinônimos. Descrente no mundo, mas com uma esperança característica. Acredito que viver em sonhos e criar realidades é um bom caminho para a felicidade. Pode crer, o mundo da imaginação é bem mais satisfatório. Agora vou embora com meus devaneios, estou extremamente sufocada. EXTREMAMENTE. De novo? Desisto. Adeus.