terça-feira, 23 de julho de 2013

Eternal Sunshine

Eternal Sunshine of the Spotless Mind

E assim, do nada, você decidiu apagar nossas lembranças. Não do modo convencional ou metafórico, no sentido literal da palavra mesmo. Eu estou em um dos piores momentos da minha vida e você nem sabe que hoje estaríamos completando cinco turbulentos e intensos anos juntos. Maldita ciência. Maldita tecnologia.  Quando eu soube que você estava tão infinitamente depressivo, já era tarde demais. Interromper o procedimento só te causaria mais traumas, afinal, você teria surtos de memórias que deixaram de existir. Você enlouqueceria.
Sentei naquela velha poltrona amarela e te observei, por intermináveis horas. Tive que controlar meus instintos para não retirar aquele capacete estúpido da sua cabeça, mas ao contrário do que você pensa, eu não sou egoísta a ponto de manter lembranças em você que você imagina serem inexistentes. Deve ser perturbador. Eu mesma nunca sei distinguir o ilusório do real e isso realmente me enlouquece um pouco.
Quando restavam apenas dez minutos, me retirei. Nunca foi tão doloroso andar as ruas de Brighton sem você, e pior, sabendo que você jamais se lembraria das nossas tardes tomando chá, enrolados em um cobertor.  Você vai ter que redescobrir a profundidade dos sentimentos em filmes preto e branco, e até esse momento chegar, você vai ser aquele mesmo cara metódico e sem sonhos de antes, é uma pena.
E aquela minha mania excêntrica de correr em um lago congelado? Você nunca vai saber novamente como foi sentir seus pés sem controle. Não da mesma maneira libertadora e perigosa.
Deus, como isso é desesperador. Posso me atirar naquela ponte que costumávamos passar todos os dias para ir para nossa casa? Ela é linda e deve ser maravilhosa a sensação do frio cortando a minha pele. Frio na barriga. Arrependimento. Tristeza. Dor. Nada. Está tudo escuro e eu tenho vontade de chorar, mas não consigo. Quero levantar meus braços, mas eu já não sinto mais eles.
Me tira dessa crise! Eu quero acordar!
O quarto estava escuro e frio. Meu coração estava em frangalhos. Era verdade, em partes. Nós havíamos terminado. Senti um alívio por perceber que tudo não havia passado de um sonho. Ele ainda se lembrava de mim. Mas não seria uma má ideia ter a minha memória apagada... 

* Inspirado no filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças.

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