Eu sei que pode soar egoísta, mas eu te fiz melhor pra mim e foi melhor assim, apesar de ter durado pouco. Você passou de um vício mortal para um intelectual e isso me orgulha profundamente. Passávamos tardes frias, sombrias e chuvosas, sentados em uma cadeira de balanço lendo algum livro da minha estante favorita. Eu te amei eternamente por noventa dias, sabia?
E nossos filmes ao meio dia de todo domingo? Eram complexos,
não eram? Assim como nosso amor. Tentei te mostrar através de uma
intelectualidade complexa, o quão difícil era nosso relacionamento, mas você não
entendeu, e continuou insistindo metodicamente na mesma coisa. Eu cansei. Porque
eu sou do mundo, não consigo nem mesmo me pertencer, como irei pertencer a
outra pessoa? Você não entendia.
Mas eu te fiz melhor pra mim. Porque não foram à toa suas
crises existenciais e seus questionamentos quanto à vida. Nossas teorias
secretas giravam em torno de uma explicação para a criação do universo e eu te
fiz melhor pra mim, porque você concordou e entendeu. Ninguém entendia.
Sobre aquele dia, eu não quis que soasse tão friamente, mas
foi assim, você entendeu o que quis e eu não pude me explicar, porque se eu
explico eu pioro tudo, e você sempre soube disso. É uma pena.
Você me acompanhava ás festas apenas para não deixar ninguém
se juntar a mim, porque você pensava que eu te pertencia, mas você estava enganado,
infelizmente.
E eu te fiz melhor pra mim, porque eu precisava moldar sua
personalidade impertinente para preencher essa dúvida eterna dentro de mim. Você
acompanhou meus passos psicológicos e isso foi uma droga, porque você passou a
agir da mesma maneira que eu, e o feitiço virou contra o feiticeiro. E eu vi em
você tudo que eu mais odiava, e descobri que eu era insuportavelmente egoísta. Desculpe-me
por tentar te fazer melhor pra mim, porque as melhores coisas não precisam ser
a mesma para todos e eu precisei de noventa dias e um ponto final para entender
isso.
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